Este blog foi feito com o intuito de expor poemas, explicar sobre goticismo, vampirismo entre outros a fim de ajudar a todos nós praticantes e interessados sobre o assunto.

sábado, 29 de janeiro de 2011

ESTRUTURA DA SUBCULTURA GÓTICA

ESTRUTURA DA SUBCULTURA GÓTICA
Introdução

Abaixo, entre outras obviedades e lugares comuns, consideraremos que o diferencial entre remédio e o veneno é a dosagem, não a substância.
Ou tentaremos imaginar alguma metáfora mais criativa, caso merecermos a simpatia das musas. Também mostraremos como somos inteligentes e modestos, e que não somos uma fase da adolescência.
Da mesma forma que os dois reis de Alice no País das Maravilhas, pensadores de diversos matizes ideológicos discordam em quase tudo, mas concordam em um ponto: que a mídia e o comércio impedem a formação de grupos culturais (e, logicamente, também os subculturais) com substância, consistência e significado. Apenas uns repudiam e lamentam esta fatalidade, enquanto outros a celebram.
Não é nosso objetivo aqui avaliar a procedência daquela lamentação ou desta celebração.
Mas naquilo que interessa a descrição da subcultura Gótica, precisamos questionar o pressuposto inicial da incompatibilidade total entre mídia-comércio e cultura significativa.
Aqui pouparemos nosso querido leitor deixando para manifestar todo nosso desprezo por certas tendências ideológicas em um próximo livro, fazendo-o então da forma mais pedante, impiedosa e sarcástica possível.
Ora, alguém esperaria menos de um Gótico?
Mas seguindo com o féretro: neste livro usamos o termo subcultura no sentido de um grupamento social relativamente independente, dentro de um outro grupamento cultural dominante.
E, muito importante: partimos da constatação que a cultura dominante e estas subculturas adjacentes não são mais delimitadas regional ou geograficamente. Temos grupamentos subculturais com números variáveis e integrantes delimitados geograficamente, mas estes grupamentos localizados estão ao mesmo tempo ligados por identidade, consistência e em comunicação com outros grupamentos locais ou com indivíduos isolados em locais em que não existem grupamentos subculturais.
Mas mesmo um indivíduo em uma região em que exista seu grupo subcultural pode não depender apenas deste, e estar mais ou apenas ligado a outros grupamentos subculturais em outros locais.
O motivo de ressaltarmos este ponto é desestimular qualquer confusão da subcultura Gótica com grupos ou gangues urbanas limitadas regionalmente, que dependem de um comprometimento local e, muitas vezes, de uma hierarquia. Uma subcultura translocal funciona de forma diferente.
A) TENDÊNCIA À INTEGRAÇÃO
O que diferencia uma subcultura da cultura hegemônica de uma época e região não é apenas quais elementos apresenta. Mas, isto sim, a forma pela qual uma dada subcultura se apropria desses elementos, em que sistema os insere e, principalmente, a estrutura interna desta subcultura.

Subculturas, hoje, tendem a integrar as diversas esferas de conhecimento e relação social através dos quais o estilo subcultural é expresso. A cultura hegemônica, pelo contrário, hoje tende a fragmentar estas esferas, tratando artes, trabalho, cultura, diversão, educação, entretenimento, comércio, religiosidade, etc como universos separados.
Há várias hipóteses sobre os motivos pelos quais a sociedade hegemônica atual se organiza desta forma. Dentre eles, o filósofo Robert Kurz comenta que a fragmentação de todas as áreas de atuação humana em esferas separadas serve à hipertrofia da esfera econômica, a qual, hoje, seria a única esfera que atribuiria "valor" às outras esferas. Evidentemente esta valoração apenas a partir da esfera econômica gera nos indivíduos uma falta de sentido que pode ser medida pelos ascendentes gráficos de vendas dos prozacs, viagras e reguladores de apetite…
Caso esta interpretação esteja correta, ela explicaria porque a falta de "sentido" e "significado" da vida é uma reclamação constante de nossa época. Ao mesmo tempo, poderíamos entender porque uma das grandes justificativas dos participantes de subculturas é que elas "fazem sentido".
De fato, as subculturas, em seu microcosmo mais integrado, reproduzem de uma forma mais flexível as estruturas de culturas tradicionais das sociedades integradas do passado, mas com a vantagem de você poder entrar e sair dela e questioná-la ou construir criativamente comportamentos desviantes.


B) TRANSLOCALIDADE E LIBERDADE INDIVIDUAL
Diferentemente de subculturas do passado, "práticas, identidades e comunidades culturais cara-a-cara e localizadas" não são mais "o único exemplo possível de agrupamentos culturais substantivos em pequena escala…".

As subculturas hoje se estendem pelo mundo todo, sem que necessariamente um indivíduo dependa de uma "liderança" ou "grupo" local para mediar sua participação subcultural. Esse processo se torna mais notável nas subculturas substanciais e de longa duração, como a Gótica.

Subculturas hoje, e já há algum tempo, são fenômenos que não estão restritos no espaço. Góticos de países diferentes provavelmente encontrarão mais em comum entre si do que com seus vizinhos nos seus respectivos bairros.



C) MÍDIA E MERCADO
"Uma subcultura -no sentido usado neste livro- indica um agrupamento relativamente independente dentro de uma sociedade diferente." (Hodkinson, 2002)

Não existem nem bancos, nem escolas, nem hospitais Góticos, nem uma estrutura política oficial. Por isso nos referimos a uma subcultura como algo "dentro" de uma sociedade diferente.

Consideramos que esta subcultura se organiza de uma forma que desenvolve sua mídia própria e seu sistema micro-econômico, e que estas estruturas só são subculturais enquanto estão integradas e servem a outras estruturas subculturais, como o significado, a diferenciação cultural e a integração deste grupo.

A esfera econômica permanece presente, mas ela é apenas um meio, não é a única esfera que dá sentido ao todo, como acontece na cultura economificada hegemônica hoje. "Conseqüentemente não é necessário um isolamento ou oposição a nenhuma "cultura dominante" unificada nem, sem dúvida, ao sistema capitalista que permeia todos os elementos das sociedades Ocidentais."
No mundo inteiro, e também no Brasil, parte dos Góticos trabalha e vive em empreendimentos comerciais, lojas, revistas, clubes, confecções especializadas e centrados na subcultura gótica. A existência desta rede de micro-mídia e micro-comércio não descaracteriza a coesão dos quatro elementos de "unidade" subcultural que, segundo a classificação de Hodkinson,.

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